31 de março de 2010

Ausência

'O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.'

[Os Três Mal-Amados, de João Cabral de Melo Neto]


Quero me desculpar com quem costuma dar uma passadinha por aqui de vez em quando, seja pra ver um texto meu, uma música ou uma poesia genial de um grande autor.
Ando ausente, eu sei.
É amor, gente.
E amor só me deixa inspirada pro lado de dentro.

25 de março de 2010

19 de março de 2010

Pedaço do meu coração

Eu quero que você se sinta
A pessoa mais feliz do mundo
A única capaz de ser pra mim
Um sonho em noite de insônia

Desejo que se satisfaz
Pede muito mais
Sentir gosto de cabelo, de suor
Tanto faz, tanto faz
E te chamam
Amor, amor, amor

Quebra
Em pedacinhos o meu coração de pedra
Quebra
Em pedacinhos o meu coração e guarda
Guarda
Um pedacinho do meu coração contigo
Fica com ele como prova de amor

[Cazuza]

16 de março de 2010

Terça-feira gorda

Como se não bastasse ter dormido sozinha,
caí da cama, e já to sonhando em voltar pra lá.
Pra sexta, quanto falta?

11 de março de 2010

O maior mau humor do mundo ou, o dia em que uma criança me salvou de mim.

(Desabafo tipo 'querido diário', sempre evitei isso aqui, mas lá vai.)

Ontem eu não acordei nos meus melhores dias e, tive que me controlar pra não jogar o despertador na parede, só não joguei porque era o celular (que nem meu é, 'roubei' da minha mãe já que o que eu tinha não servia nem como relógio mais).
Fui pro trabalho arrastada, com aquela preguiça que me é característica elevada a milésima potência e lá, tive que aguentar todas as amolações que não vou listar aqui pra que você não desista de ler minhas lamúrias assim tão rápido.
Durante todo o dia eu tentei melhorar a cara, juro, até fui ao salão na hora do almoço e pintei as unhas de azul pra levantar o astral, mas nada...
Quando já tinha desistido de mim, quando resolvi assumir a carranca e pronto, saí correndo pra casa pensando me trancar no quarto com um livro e alguma música chorosa que toca na hora que o casal se desentende na novela, foi aí que o destino, a vida ou Deus, alguém superior que estava me observando resolveu me dar uma lição.
Eis que eu tropeço num carrinho de bebê que estava sendo empurrado displecentemente por uma babá, quase eu não olho o rostinho da criança, mas reparei um aceno enquanto tentava me recompor pra voltar a correr. Era um menino muito bochechudo sorrindo e acenando pra mim, assim, do nada, sem nem me conhecer. Uma criança sorrindo pra alguém que não havia sequer dado 'bom dia' pras pessoas com quem trabalha e convive diariamente.
Foi aí que eu percebi que, mesmo que o meu mau humor tenha fundamento (até agora não encontrei nenhum, mas tudo bem), as coisas lá fora não deixam de ser bonitas. Mesmo que minha rotina esteja massacrando e eu mal veja a luz do sol daqui de dentro do escritório, ele nasce e se põe de forma magnífica todos os dias. Resolvi não voltar a correr.
Sorri de volta e acenei, pro menino e pra vida.
Aquele gesto me salvou de desistir, de secar, aquele pequeno gesto me salvou de mim.
E hoje?
Já estou bem melhor, obrigada.

10 de março de 2010

8 de março de 2010

A gente merece!


Mãe, avó, tia, filha, namorada, sogra, esposa, chefe...
Não importa qual ou quais categorias você ocupe na lista, hoje é dia de celebrar a grandeza de ser mulher. Aceitem e exijam todas as flores, chocolates, cartinhas e demonstrações de afeto.
E não parem de espalhar pelo mundo toda força e delicadeza...

FELIZ DIA INTERNACIONAL DA MULHER A TODAS AS MULHERES DO MUNDO E A TODO MUNDO QUE SEGUE O NOSSO EXEMPLO [if you know what I mean ;) ]

4 de março de 2010

Alguém me explica






o que foi o desfile da Blumarine inverno 2010?! Morryyy! Zebra, onça, cobra, paetê, lamê! QUE-RO-TO-DOS! E quero agora!

Adivinha quem é? O ciúme.

Pesquisa oferece duas sugestões para que uma relação não seja envenenada pelo ciúme

A CADA semana, ouço a queixa de alguém que encontra, no celular de seu parceiro ou parceira, a “prova” de uma traição: o ciúme vinga com a tecnologia, mas entendê-lo continua difícil.
Para os darwinistas, a evolução favoreceu os ciumentos: sobrevive a linhagem dos que evitam sustentar rebentos ilegítimos, poupando assim seus recursos. Problema: o argumento evolucionista vale só para o ciúme masculino (mesmo no pleistoceno, os homens que pulavam a cerca não voltavam grávidos para casa), e, restaria explicar, o ciúme feminino. Várias pesquisas mostram que todos, homens e mulheres, são mais sensíveis à infidelidade emocional (que não engravida ninguém) do que à infidelidade sexual.
Os cognitivistas, em geral, entendem o ciúme como uma reação contra algo que ameaça a relação e fere o amor-próprio do “traído”. Faz sentido, mas o ciúme (sobretudo patológico) nem sempre é reativo: às vezes, o ciumento inventa situações para alimentar seu ciúme.
Os terapeutas psicodinâmicos notam que o ciumento é mais preocupado consigo e com seus rivais do que com o objeto de seu amor. Eles reconhecem, grosso modo, dois tipos de ciúme, que ambos seriam restos neuróticos da infância:
1) Há o ciúme possessivo de quem não deixa a primeira infância, continua querendo ser um único corpo, junto com a mãe, e só enxerga ameaças – no pai, nos irmãos etc. Nesse estilo, uma tia minha passou a vida recluída pelo marido: não saía de casa, nenhum médico podia examiná-la. Por essa razão, eu não a conheci, mas minha avó dizia que o homem era louco e que ela era louca também, por aceitar.
2) Há o ciúme inseguro de quem nunca se sente “tranqüilamente” amável e está sempre revivendo as emoções da pré-puberdade, quando descobrimos que a mãe tem interesses diferentes da gente (experiência dolorosa, mas também prazerosa, pois, traindo-nos, ela nos liberta para desejarmos outras coisas).
Então? Pois é, acabo de ler uma pesquisa, de Visser e McDonald, no “British Journal of Social Psychology” (vol. 46, nº 2, junho 2007): “Swings and Roundabouts: Management of Jealousy in Heterosexual Swinging Couples” (suingue e carrosséis: administração do ciúme em casais heterossexuais que praticam o suingue).
Questão dos pesquisadores: há casais que praticam regularmente o suingue, a troca sexual de parceiros; como eles administram o ciúme?
Resultado previsível: os casais que praticam suingue transformam seu ciúme em excitação sexual. Essa transformação é mais fácil para o homem; na mulher, a visão do parceiro nos braços de outra produz facilmente insegurança. Seja como for, a transformação do ciúme em excitação sexual é possível à condição que seja garantida a confiança absoluta de ambos na coesão do casal. Garantida como?
1) A primazia do envolvimento afetivo sobre o sexual é permitida pela sinceridade. O parceiro é sempre o primeiro a saber: essa prioridade garante a superioridade do laço afetivo do casal sobre o laço sexual com outros. De fato, na infidelidade, o que mais causa aflição é que, por exemplo, o amante sabe do marido, e o marido não sabe do amante (diga para um amante que sua performance é comentada na mesa do casal, e ele, provavelmente, sumirá para sempre).
2) O próprio suingue, como fantasia constantemente elaborada pelos dois, consolida o laço do casal, torna-o muito mais importante do que os parceiros ocasionais de cada um.
Será que, dessas constatações, há como deduzir uma receita contra o ciúme ordinário?
Parece que sim: à condição de não precisar repetir os restos da infância mencionados antes, deve ser possível construir uma relação em que o ciúme seja tolerável. Para isso, segundo a pesquisa, é bom: 1) que as “infidelidades” (todas, não só as sexuais) sejam prenunciadas, ou seja, que elas existam primeiro na conversa do casal; 2) que os membros do casal compartilhem uma aventura, um sonho (voar de asa delta, aprender sânscrito ou praticar suingue, tanto faz).
Mais duas observações. A maior traição é a traição do próprio desejo da gente; portanto, pedir ao outro para não nos trair é menos importante do que lhe pedir para não trair a si mesmo. Até porque um parceiro ou uma parceira que traísse seu próprio desejo para ficar com a gente acabaria, a médio prazo, odiando-nos por ter-se traído.
Enfim, uma infidelidade não é razão para acabar com uma relação. No máximo, é razão para perguntar-se se a relação vale a pena.

[Contardo Calligari, Jornal Folha de São Paulo 04/09/2008]


Não sei se concordo com tudo (e, definitivamente, eu não toparia testar minha sanidade/nível de ciume numa casa de swing). Mas usei o texto ontem como calmante durante um ataque de ciúmes e quis compartilhar. O fato é que a maioria das minhas crises são infantis e me envergonham muito depois que passam.

2 de março de 2010

Só por amor

Só por amor
Só por paixão
Só por você
Você que nunca disse não
Só por saber
Que o coração
Sabe demais
Que a razão não tem razão

Por você que foi só minha
Sem jamais pensar por quê
Por você que apenas tinha
Razões e mais razões para não ser

Só por amor
Só por amado
Só por amar
Meu amor, muito obrigado
Meu amor, muito obrigado


[Vinicius de Moraes]

E, sim, contrariando todas as leis da TPM, hoje eu estou absurdamente amorosa.

De gramática e de linguagem

E havia uma gramática que dizia assim:
“Substantivo (concreto) é tudo quanto indica
Pessoa, animal ou cousa: João, sabiá, caneta”.
Eu gosto é das cousas. As cousas, sim!. . .
As pessoas atrapalham. Estão em toda parte.
Multiplicam-se em excesso.
As cousas são quietas. Bastam-se. Não se metem com ninguém.
Uma pedra. Um armário. Um ovo. (Ovo, nem sempre,
Ovo pode estar choco: é inquietante. . .)
As cousas vivem metidas com as suas cousas.
E não exigem nada.
Apenas que não as tirem do lugar onde estão.
E João pode neste mesmo instante vir bater à nossa porta.
Para quê? não importa: João vem!
E há-de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão,
Amigo ou adverso. . . João só será definitivo
Quando esticar a canela. Morre, João. . .
Mas o bom, mesmo, são os adjetivos,
Os puros adjetivos isentos de qualquer objeto.
Verde. Macio. Áspero. Rente. Escuro. Luminoso.
Sonoro. Lento. Eu sonho
Com uma linguagem composta unicamente de adjetivos
Como decerto é a linguagem das plantas e dos animais.
Ainda mais:
Eu sonho com um poema
Cujas palavras sumarentas escorram
Como a polpa de um fruto maduro em tua boca,
Um poema que te mate de amor
Antes mesmo que tu saibas o misterioso sentido:
Basta provares o seu gosto…

[Mário Quintana]

É pra lá que eu vou

Para além da orelha existe um som, à extremidade do olhar um aspecto, às pontas dos dedos um objeto – é para lá que eu vou.
À ponta do lápis o traço.
Onde expira um pensamento está uma idéia, ao derradeiro hálito de alegria uma outra alegria, à ponta da espada a magia – é para lá que eu vou.
Na ponta dos pés o salto.
Parece a história de alguém que foi e não voltou – é para lá que eu vou.
Ou não vou? Vou, sim. E volto para ver como estão as coisas. Se continuam mágicas. Realidade? eu vos espero. E para lá que eu vou.
Na ponta da palavra está a palavra. Quero usar a palavra “tertúlia” e não sei aonde e quando. À beira da tertúlia está a família. À beira da família estou eu. À beira de eu estou mim. É para mim que eu vou. E de mim saio para ver. Ver o quê? ver o que existe. Depois de morta é para a realidade que vou. Por enquanto é sonho. Sonho fatídico. Mas depois – depois tudo é real. E a alma livre procura um canto para se acomodar. Mim é um eu que anuncio.
Não sei sobre o que estou falando. Estou falando de nada. Eu sou nada. Depois de morta engrandecerei e me espalharei, e alguém dirá com amor meu nome.
É para o meu pobre nome que vou.
E de lá volto para chamar o nome do ser amado e dos filhos. Eles me responderão. Enfim terei uma resposta. Que resposta? a do amor. Amor: eu vos amo tanto. Eu amo o amor. O amor é vermelho. O ciúme é verde. Meus olhos são verdes. Mas são verdes tão escuros que na fotografia saem negros. Meu segredo é ter os olhos verdes e ninguém saber.
À extremidade de mim estou eu. Eu, implorante, eu a que necessita, a que pede, a que chora, a que se lamenta. Mas a que canta. A que diz palavras. Palavras ao vento? que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo.
Eu à beira do vento. O morro dos ventos uivantes me chama. Vou, bruxa que sou. E me transmuto.
Oh, cachorro, cadê tua alma? está à beira de teu corpo? Eu estou à beira de meu corpo. E feneço lentamente.
Que estou eu a dizer? Estou dizendo amor. E à beira do amor estamos nós.

[Clarice Lispector]

fofura