30 de setembro de 2009

nao se lê

O amor

sem palavras

Ou

A palavra amor, sem amor

Sendo amor, ou. A palavra ou

Sem substituir nem ser substituída por

Si, a palavra si, sem ser de signada ou gnificada por

O amor

Entre si e o que se

Chama amor, como se

Amasse (esse pedaço de papel escrito amor)

Somasse o amor ao nome amor, onde ecoa

O mar, onde some o mar onde soa

A palavra amor, sem palavras

[Arnaldo Antunes]

Eu e meu inferno astral.

Procuro nos búzios e no horóscopo o resto da minha dignidade. Tento ser mais cética, mais durona, mas sou totalmente tendenciosa quando alguma coisa diz que eu posso ser feliz. É sempre mais fácil culpar o autosabotamento com signos do zodíaco ou algo que se preze, do que entender que você, independente de onde marte esteja neste exato momento, gosta de arrancar as próprias penas apenas para ver aonde dói.
Gosta de se cutucar para ver aonde sangra, aonde incomoda, que parte do seu corpo sente mais falta dele, em que momento do dia você perde a razão, fica sem ar, o porquê grita tanto internamente ao ponto que se deita exausta de tanta coisa que é sua, mas que você não sabe lidar, e por isso é fácil apelar para o impalpável e para todas as superstições existentes para que tirem a culpa que você carrega de querer tanto ser como os outros, mas não é.
O amor que tanto se proclama, dessa busca e espera infindável, "que chegue e será bem vindo, que será esperado" que some em alguns meses, que se sobrepõe na esquina por um outro qualquer, por essa falta, esse buraco no estômago, essa fome de se sentir amado, de se sentir querido, de se sentir seguro, quando amor é nada além da sensação de estar caindo e não saber onde se segurar.
E por isso eu culpo toda e qualquer manifestação esotérica, pelo meu amor volúvel que vai para qualquer pessoa que me desperte algo que valha terminar o dia, e sendo assim é mais fácil despejar em alguma coisa impalpável a minha incapacibilidade de ser como o resto das pessoas.
Porque eu nunca tive motivos para acreditar em nada que dure para sempre. Porque eu sempre fui tocada pelas mais diferentes formas de vida e por qualquer frase um pouco mais inteligente, porque dói entender que a posição da lua não interfere no quanto eu morro um pouco todos os dias. Porque eu acredito em tudo e isso de não descartar nada, me faz voltar para casa depois de me apaixonar a cada esquina, e querer uma cama só.
Eu me machuco pra saber onde dói, mas hoje sei exatamente que parte de mim sente mais falta dele. T u d o .

[Madame Bovary, ces't moi!]

half is not whole

the danger of a broken heart is not the pain.
not the tears, or anger.
not the ache, not the loneliness,
not the quiet, the empty seat, the bed now much too big.

the danger of a broken heart is what we have to repair it with.
mistrust, hopelessness, faux comfort.
independence.
the oaths we take. what we swear to ourselves.
the danger is self-reliance.

the danger is that these stitches in our heart don't fall out.
that they are there to stay.
because they must.

the danger is that we know it isn't about love anymore.
and,
it isn't about how perfect we are in our world.
it's about how perfect we are in theirs.

the danger is that two became one.
and a half of one...
well.

half is not whole.

29 de setembro de 2009

Palavras, palavras...

E suspeitou: por mais que tentasse racionalizá-la ou enquadrá-la, ela sempre ficaria muito além de qualquer tentativa de racionalização ou enquadramento. Mas não era medo, embora já não tivesse certeza de até que ponto o olhar dele mesmo revelava uma verdade óbvia ou uma outra dimensão de coisas, inatingível se não a amasse tanto. Essa dúvida fez com que oscilasse, de tal maneira precário que novamente precisou falar:
– Você não passa de um substantivo feminino — disse, e quase sem sentir acrescentou - ... mas eu te amo tanto, tanto.

[Caio F. Abreu in O ovo apunhlado]

Caio me ensina.

Fico cansado do amor que sinto, e num enorme esforço que aos poucos se transforma numa espécie de modesta alegria, tarde da noite, sozinho neste apartamento no meio de uma cidade escassa de dragões, repito e repito este meu confuso aprendizado para a criança-eu-mesmo sentada aflita e com frio nos joelhos do sereno velho-eu-mesmo:

- Dorme, só existe o sonho. Dorme, meu filho. Que seja doce.

28 de setembro de 2009

Eu quero e quero agora.

Bonde do Dom

Novo dia
Sigo pensando em você
Fico tão leve que não levo padecer
Trabalho em samba e não posso reclamar
Vivo cantando só para te tocar

Todo dia
Vivo pensando em casar
Juntar as rimas como um pobre popular
Subir na vida com você em meu altar
Sigo tocando só para te cantar

É o bonde do dom que me leva
Os anjos que me carregam
Os automóveis que me cercam
Os santos que me projetam
Nas asas do bem desse mundo
Carregam um quintal lá no fundo
A água do mar me bebe
A sede de ti prossegue
A sede de ti...

[Marisa Monte, Arnaldo Antunes]

25 de setembro de 2009

S I N C R O N I C I D A D E :

eu e você não acontecemos por uma relação causal,
mas por uma relação de significado,


que ainda estamos trabalhando.



-

E agora, rapaz?


Desde que conheci você
sinto como se estivesse andando
com pequenas asas nos meus
sapatos
como se meu estômago estivesse
cheio de borboletas.

[Affonso R. de Sant'anna]

23 de setembro de 2009

Namore um barrigudinho

Tenho um conselho valioso para dar aqui: se você acabou de conhecer um rapaz, ficou com ele algumas vezes e já está começando a imaginar o dia do seu casamento e o nome dos seus filhos, pare agora e me escute! Na próxima vez que encontrá-lo, tente disfarçadamente descobrir como é sua barriga. Se for musculosa, torneada, estilo `tanquinho´, fuja! Comece a correr agora e só pare quando estiver a uma distância segura. É fria, vai por mim.
Homem bom de verdade precisa, obrigatoriamente, ostentar uma barriguinha de chopp. Se não, não presta. Estou me referindo àqueles que, por não colocarem a beleza física acima de tudo (como fazem os malditos metrossexuais), acabaram cultivando uma pancinha adorável. Esses, sim, são pra manter por perto.
E eu digo por quê. Você nunca verá um homem barrigudinho tirando a camisa dentro de uma boate e dançando como um idiota, em cima do balcão. Se fizer isso, é pra fazer graça pra turma e provavelmente será engraçado, mesmo. Já os `tanquinhos´ farão isso esperando que todas as mulheres do recinto caiam de amores - e eu tenho dó das que caem. Quando sentam em um boteco, numa tarde de calor, adivinha o que os pançudos pedem pra beber? Cerveja! Ou coca-cola, tudo bem também. Mas você nunca os verá pedindo suco. Ou, pior ainda, um copo com gelo, pra beber a mistura patética de vodka com `clight´ que trouxe de casa.
E você não será informada sobre quantas calorias tem no seu copo de cerveja, porque eles não sabem e nem se importam com essa informação. E no quesito comida, os homens com barriguinha também não deixam a desejar. Você nunca irá ouvir um ah, amor, `Quarteirão´ é gostoso, mas você podia provar uma `McSalad´ com água de coco.
Nunca! Esses homens entendem que, se eles não estão em forma perfeita o tempo todo, você também não precisa estar. Mais uma vez, repito: não é pra chegar ao exagero total e mamar leite condensado na lata todo dia! Mas uma gordurinha aqui e ali não matará um relacionamento. Se ele souber cozinhar, então, bingo! Encontrou a sorte grande, amiga. Ele vai fazer pra você todas as delícias que sabe, e nunca torcerá o nariz quando você repetir o prato. Pelo contrário, ficará feliz.
Outra coisa fundamental: homens barrigudinhos são confortáveis! Experimente pegar a tábua de passar roupas e deitar em cima dela. Pois essa é a sensação de se deitar no peito de um musculoso besta. Terrível!
Gostoso mesmo é se encaixar no ombro de um fofinho, isso que é conforto. E na hora de dormir de conchinha, então? Parece que a barriga se encaixa perfeitamente na nossa lombar, e fica sensacional.
Homens com barriga não são metidos, nem prepotentes, nem donos do mundo. Eles sabem conquistar as mulheres por maneiras que excedem a barreira do físico. E eles aprenderam a conversar,a ser bem humorados, a usar o olhar e o sorriso pra conquistar. É por isso que eu digo que homens com barriguinha sabem fazer uma mulher feliz.

[CARLA MOURA, PSICÓLOGA, ESPECIALISTA EM SEXOLOGIA]

18 de setembro de 2009

Fabro

Você é intensa, mas sua intensidade não costura para fora. Eu sou intenso, mas minha intensidade costura para fora antes mesmo de comprar os tecidos. Sei que não entendo nem metade do que já sentiu por mim. Por absoluta ausência de comunicação. Sei que não entende nem metade do que sinto por você. Por absoluta ausência de paciência. Eu preciso ouvir, você não precisa falar, nos amamos desinformados.

Maldita chuva que começou. Os relâmpagos são gravatas azuis em terno escuro. A sobriedade das sobras. A chuva sempre está vestida para velório. A chuva lava bagunçando. Deixa tudo mais sujo. Muito mais verdadeiro.

Pretendia dizer que

A solidão é cheia de boas intenções.

[Carpinejar]

11 de setembro de 2009

Word of the day...

MIMETISMO
[Do gr. mimetós, 'imitado', + -ismo.]
S. m.
1. Fenômeno que consiste em tomarem diversos animais a cor e configuração dos objetos em cujo meio vivem, ou de outros animais de grupos diferentes. Ocorre no camaleão, em borboletas, etc.

[Cf. homocromia.]


2. Fig. Mudança consoante o meio; adaptação: 2


'E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido.'

[Vinicius de Moraes]

8 de setembro de 2009

and treat you right.

[...] So don’t hurt her, don’t change her, don’t analyze and don’t expect more than she can give. Smile when she makes you happy, let her know when she makes you mad, and miss her when she’s not there.

[Bob Marley]

4 de setembro de 2009

Embebedado


Pendurado de banda
No vão da varanda
Do prédio a rodar,

Não sei mais se é o mundo
Que cai aos meus pés
Ou de pernas pro ar;

Embebedado de você,
Tonto na beirada da

Tentação de cair e voar,
Até me aninhar em você,

Mal parado num muro
Sem prumo, em que estudo
Onde me equilibrar,

Entre o chão e o barraco
De estrelas que cai
No que foi nosso lar,

Abandonado por você,
Louco querendo mamar
Do segredo da vida e gritar
Até me agarrar em você,

Arrastado por dentro
Ao meu próprio espetáculo
Em tal patamar

Pela mão da sereia,
Que vai se tornando
A sirene a soar,

Convidado de luxo
A deixar a ribalta de amar

Pela escada de incêndio e baixar
Até me assistir escapar você,

Muito embora indo embora,
Eu mesmo mentindo
Devo argumentar:

Sou a sobra do efeito
Cascata da vodca
E desse luar.

[Chico Buarque]