26 de março de 2009

...

Ora você olha, ora você sorri,
Eu sei o que você quer da vida,
Mas não sei o que quer de mim.

25 de março de 2009

Posando de Star












Pouco importa o que essa gente vá falar mal
Falem mal
Eu já tô pra lá de rouco, louco total
Eu sou o teu amor, me entenda
Você precisa descobrir o que está perdendo
É, o que está perdendo!
Botando banca
Posando de star
Você precisa é dar!

Vem viver comigo, vem me experimentar
Me experimenta
Soltem as coisas lindas que te ardem, me traz
Você sem texto sem cinema
Não faz do sexo um problema
Eu armo uma cena, é, eu armo uma cena!
Quebro garrafa
Morro de chorar
Mas ainda te faço dar!

Tudo que eu quero é uma noite de luar
De luar
São palavras doces as que eu quero escutar
Eu sou o seu amor, me entenda
Você precisa descobrir o que está perdendo
É, o que está perdendo!
Botando banca
Posando de star
Ah, você precisa é dar!

Pouco importa o que esta gente vá falar mal

[Cazuza]

O ARTISTA é o criador de coisas belas.

Revelar a arte e ocultar o artista é a finalidade da arte.
O crítico é aquele que pode traduzir ,de um modo diferente ou por um novo processo, a sua impressão das coisas belas.

A mais elevada, como a mais baixa , das formas de crítica é uma espécie de autobiografia.

Os que encontram significações feias em coisas belas, são corruptos sem ser encantadores. Isso é um defeito.
Os que encontram belas significações em coisas belas são cultos. Para estes há esperança.
Existem os eleitos para os quais as coisas belas significam Beleza.
Um livro não é, de modo algum, moral ou imoral. Os livros são bem ou mal escritos. Eis tudo.
A aversão do século XIX pelo Realismo é a cólera de Calibã
por ver seu rosto num espelho.
A aversão do século XIX pelo Romantismo é a cólera de
Calibã por não ver o seu próprio rosto num espelho.

A vida moral do homem faz parte do tema para o
artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de
um meio imperfeito.O artista nada deseja provar. Até as coisas verdadeiras podem ser provadas.

Nenhum artista tem simpatias éticas. Uma simpatia ética num
artista constitui um maneirismo de estilo imperdoável.

O artista jamais é mórbido. O artista tudo pode exprimir. Pensamento e linguagem são para o artista instrumentos de uma arte . Vício e virtude são para o artista materiais para uma arte.
Sob o ponto de vista da forma, o modelo de todas as artes é a do músico.
Do ponto de vista do sentimento, é a profissão do ator.

Toda a arte é, ao mesmo tempo, superfície e símbolo.

Os que os que buscam sob a superfície, fazem-no por seu próprio risco.
Os que procuram decifrar o símbolo,correm também seu próprio risco.
Na realidade, a arte reflete o espectador e não a vida.

A divergência de opiniões sobre uma obra de arte indica que
a obra é nova, complexa e vital.

Quando os críticos divergem, o artista está de acordo consigo mesmo.

Podemos perdoar a um homem por haver feito uma coisa útil, contanto que a não admire. A única desculpa de haver feito uma coisa inútil é admirá-la intensamente.

Toda arte é completamente inútil.

[Prefácio de O Retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde]

24 de março de 2009

Você vai me enganar sempre

Você me deixa orgulhoso
Gostoso te ouvir jurar
Mentir com esse olhar guloso
Pra me acalmar

Eu vou me sentir seu homem
Eu vou dormir como um anjo

Você vai me enganar sempre
Que eu bobear
Você vai me enganar sempre
Com inocência no olhar
Jeitinho de ovelha mansa
Só pra disfarçar
Mas teu riso de criança
É um truque vulgar
Dando ataques de ciúmes
Levantando a minha moral
Você vai me enganar sempre
É o teu jeito de amar

Se um amigo chegado
Maltratado, pintar
Sentar na mesa ao teu lado
E o assunto casar
Sobre as feridas do mundo
Qualquer papo vagabundo
Você vai me enganar
Sempre que bobear

[Cazuza - Frejat]

23 de março de 2009

Coisas que o Demo criou...

Por Nayara e Marina.


A vodka,
o telemarketing,
o pinto pequeno [e o grande demais],
o chulé da Melissa,
menstruação,
a paixonite,
o delineador,
palestra de pai,
o feriado no domingo,
a alergia,
o funk do ti ta nic,
a DR por telefone,
cheiro de progressiva,
a swingers,
a reforma ortográfica,
ônibus lotado,
a fome,
o spam,
Nelson Rodrigues,
o arrependimento,
as calorias,
cabelo ressecado,
A falta de dinheiro,
o sono durante o expediente




E no oitavo dia Ele criou...

o leite condensado,
a barba,
o msn clandestino,
a cama elástica,
o frio na barriga,
a calcinha velha e a meia furada,
o abraço de mãe,
ligação a cobrar,
a preguiça,
a piada idiota,
o antialérgico,
a transa depois da dr,
o cotonete,
a cervejinha,
o rímel,
o cinema e a música,
a papete do planeta dos macacos,
a cama box,
pão de queijo de vó

A Coisa

A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfiar que não foi propriamente dita.

[Mario Quintana em Caderno H]

19 de março de 2009

Viagem à sombra

Tua casa sozinha – lassidão dos devaneios, dos segredos. Frocos verdes de perfume sobre a malva penumbra (e a tua carne em pianíssimo, grande gata branca de fala moribunda) e o fumo branco da cidade inatingível, e o fumo branco, e a tua boca áspera, onde há dentes de inocência ainda.

És, de qualquer modo, a Mulher. Há teu ventre que se cobre, invisível, de odor marítimo dos brigues selvagens que eu não tive; há teus olhos mansos de louca, ó louca! e há tua face obscura, dolorosa, talhada na pedra que quis falar. Nos teus seios de juventude, o ruído misterioso dos duendes ordenhando o leite pálido da tristeza do desejo.

E na espera da música, o vaivém infantil dos gestos de magia. Sim, é dança! – o colo que aflora oferecido é a melodiosa recusa das mãos, a anca que irrompe à carícia é o ungido pudor dos olhos, há um sorriso de infinita graça, também, frio sobre os lábios que se consomem. Ah! onde o mar e as trágicas aves da tempestade, para ser transportado, a face pousada sobre o abismo?

Que se abram as portas, que se abram as janelas e se afastem as coisas aos ventos. Se alguém me pôs nas mãos este chicote de aço, eu te castigarei, fêmea! – Vem, pousa-te aqui! Adormece tuas íris de ágata, dança! – teu corpo barroco em bolero e rumba. – Mais! – dança! dança! – canta, rouxinol! (Oh, tuas coxas são pântanos de cal viva, misteriosa como a carne dos batráquios...)

Tu que só és o balbucio, o voto, a súplica - oh mulher, anjo, cadáver da minha angústia! – sê minha! minha! minha! no ermo deste momento, no momento desta sombra, na sombra desta agonia – minha – minha – minha – oh mulher, garça mansa, resto orvalhado de nuvem...

Pudesse passar o tempo e tu restares horizontalmente, fraco animal, as pernas atiradas à dor da monstruosa gestação! Eu te fecundaria com um simples pensamento de amor, ai de mim!

Mas ficarás com o teu destino.

[Vinícius de Moraes]

Conjugação da ausente

Foram precisos mais dez anos e oito quilos
Muitas cãs e um princípio de abdômen
(Sem falar na Segunda Grande Guerra, na descoberta da penicilina e na desagregação do átomo)
Foram precisos dois filhos e sete casas
(Em lugares como São Paulo, Londres, Cascais, lpanema e Hollywood)
Foram precisos três livros de poesia e uma operação de apendicite
Algumas prevaricações e um exequatur
Fora preciso a aquisição de uma consciência política
E de incontáveis garrafas; fora preciso um desastre de avião
Foram precisas separações, tantas separações
Uma separação...

Tua graça caminha pela casa
Moves-te blindada em abstrações, como um T. Trazes
A cabeça enterrada nos ombros qual escura
Rosa sem haste. És tão profundamente
Que irrelevas as coisas, mesmo do pensamento.
A cadeira é cadeira e o quadro é quadro
Porque te participam. Fora, o jardim
Modesto como tu, murcha em antúrios
A tua ausência. As folhas te outonam, a grama te
Quer. És vegetal, amiga...
Amiga! direi baixo o teu nome
Não ao rádio ou ao espelho, mas à porta
Que te emoldura, fatigada, e ao
Corredor que pára
Para te andar, adunca, inutilmente
Rápida. Vazia a casa
Raios, no entanto, desse olhar sobejo
Oblíquos cristalizam tua ausência.
Vejo-te em cada prisma, refletindo
Diagonalmente a múltipla esperança
E te amo, te venero, te idolatro
Numa perplexidade de criança.

[Vinícius de Moraes]

17 de março de 2009

Que seja bom o que vier...

Não acho bonito que a gente se disperse assim, só isso. Encontre, desencontre e nada mais, nunca mais, é urbano demais - e eu nasci praticamente no campo, até os 15 anos quase no campo, céu e campo. Não sei se a gente pode continuar amigo. Não sei se em algum momento cheguei a ver você completamente como Outra pessoa, ou, o tempo todo, como Uma Possibilidade de Resolver Minha Carência. Estou tentando ser honesto e limpo. Uma possibilidade que eu precisava devorar ou destruir. Porque até hoje não consegui conquistar essa disciplina, essa macrobiótica dos sentimentos, essa frugalidade das emoções.

Fico tomado de paixão.Há tempos não ficava.

E toda essa peste, meu amigo. O que tem me mantido vivo hoje é a ilusão ou a esperança dessa coisa, "esse lugar confuso", o Amor um dia. E de repente te proíbem isso. Eu tenho me sentido muito mal vendo minha capacidade de amar sendo destroçada, proibida, impedida, aos 36 anos, tão pouco. Nem vivi nada ainda. E não sou sequer promíscuo. Dum romantismo não pós, mas pré todas as coisas - um romantismo que exige sexualidade e amor juntos. Nunca consegui. Uns vislumbres, visões do esplendor. Me pergunto se até a morte - será?
[...]
Não quero me tornar uma pessoa pesada, frustrada, amarga. Não vou me tornar assim.
[...]
Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas... Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo.
[...]
Somos muito parecidos, de jeitos inteiramente diferentes: somos espantosamente parecidos. E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim - para não querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura. Perdoe a minha precariedade e as minhas tentativas inábeis, desajeitadas, de segurar a maçã no escuro. Me queira bem.

Estou te querendo muito bem neste minuto. Tinha vontade que você estivesse aqui e eu pudesse te mostrar muitas coisas, grandes, pequenas, e sem nenhuma importância, algumas.Fique feliz, fique bem feliz, fique bem claro, queira ser feliz. Você é muito lindo e eu tento te enviar a minha melhor vibração de axé. Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim.

Com cuidado, com carinho grande, te abraço forte e te beijo,

Caio F.

p.s.: Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis. E amanhã tem sol.

Eu?

eu te quero muito, por muito tempo. Há tempos...

16 de março de 2009

OS 10 MANDAMENTOS DE LOUISE WILSON

1 - Incomodar, provocar, divertir e envolver

2 - Está errado estar correto. Os corretos são chatos

3 - Criatividade é o oposto da experiência

4 - É preciso correr riscos

5 - ADEUS AS REFERÊNCIAS - hellooooooooooo - alguém tem mais alguma dúvida??

6 - Criar é uma tortura

7 - Uma pessoa precisa inspirar pelo que ela é

8 - Não se levar muito a sério

9 - Fracasse, fracasse, como dizia Samuel Beckett

10 - O que começa errado tem mais chance de dar certo

12 de março de 2009

Numerologia

7 - Inteligente

O 7 é o caminho da sabedoria, da verdade, da perfeição e da fé. Sua alma exigente fascina a muitos. Pensa, pensa, pensa. Tanto, que às vezes só produz mais perguntas e chega a criar certa paranóia. Sempre há algum tipo de intriga na sua vida, porque o 7 é o número dos segredos. Fica embaraçada quando acha que está sendo criticada publicamente, mas pode ferir os sentimentos do seu amor ou de uma amiga com sua língua afiada. Seu desafio é ser compreensiva, aceitando as imperfeições dos outros (nem todo mundo tem seus padrões altíssimos) e as suas. E também a ficar em paz com seus pensamentos e sentimentos. Você é bastante sensível e emotiva. Planejadora inteligente, investigadora com faro aguçado, analista criativa, dona de uma intuição precisa e ótima para liquidar problemas, consegue vencer qualquer debate quando sabe do que está falando. Mas talvez se torne introvertida e até agressiva caso não se sinta segura. Aposte em ambientes calmos para refletir: ao ouvir sua voz interior, resultados positivos surgirão sem nenhuma surpresa!

11 de março de 2009

Os sobreviventes

[...]
Quanto a mim, a voz rouca, fico por aqui comparecendo a atos públicos, entre uma e outra carreira, pixando muros contra usinas nucleares, em plena ressaca, um dia de monja, um dia de puta, um dia de Joplin, um dia de Tereza de Calcutá, um dia de merda enquanto seguro aquele maldito emprego de oito horas diárias para poder pagar essa poltrona de couro autêntico onde neste exato momento vossa reverendíssima assenta sua preciosa bunda e essa exótica mesinha de centro em junco indiano que apóia vossos fatigados pés descalços ao fim de mais uma semana de batalhas inúteis, fantasias escapistas, maus orgasmos e crediários atrasados. Mas tentamos tudo, eu digo, e ela diz que sim, claaaaaaaro, tentamos tudo, inclusive trepar, porque tantos livros emprestados, tantos filmes vistos juntos, tantos pontos de vista sócio político artístico filosófico existenciais e bababá em comum só podiam dar mesmo nisso: cama.
[...]
claro que deve haver alguma espécie de dignidade nisso tudo, a questão é onde, não nesta cidade escura, não neste planeta podre e pobre, dentro de mim? Ora não me venhas com autoconhecimentos-redentores, já sei tudo de mim, tomei mais de cinqüenta ácidos fiz seis anos de análise, já pirei de clínica, lembra? você me levava maçãs argentinas e fotonovelas italianas, Rossana Galli, Franco Andrei, Michela Roc, Sandro Moretti, eu te olhada entupida de mandrix e babava soluçando perdi minha alegria, anoiteci, roubaram minha esperança, enquanto você, solidário e positivo, apertava meu ombro com sua mão apesar de tudo viril repetindo reage, companheira, reage, a causa precisa dessa tua cabecinha privilegiada, teu potencial criativo, tua lucidez libertária, bababá bababá. As pessoas se transformavam em cadáveres decompostos à minha frente, minha pele era triste e suja, as noites não terminavam nunca, ninguém me tocava, mas eu reagi, despirei, e cadê a causa, cadê a luta, cadê o po-ten-ci-al criativo? Mato, não mato, atordôo minha sede com sapatinhos do Ferro’s Bar ou encho a cara sozinha aos sábados esperando o telefone tocar, e nunca toca, ouvindo samba-canção e blues com caipira de vodka, neste apartamento que pago com o suor do potencial criativo da bunda que dou oito horas diárias pra aquela multinacional fodida. Mas eu quero dizer, e ela me corta mansa, claro que você não tem culpa, coração, caímos exatamente na mesma ratoeira, a única diferença é que você pensa que pode escapar, eu quero chafurdar na dor deste ferro enfiado fundo na minha garganta seca, me passa o cigarro, não estou desesperada, ,não mais do que sempre estive, não estou bêbada nem louca, estou é lúcida pra caralho e sei claramente que não tenho nenhuma saída, não se preocupe, depois que você sair tomo banho frio, leite quente com mel de eucalipto e gin-seng, depois deito, depois durmo, depois acordo e passo uma semana a ban-chá e arroz integral, absolutamente santa, absolutamente pura, absolutamente limpa, depois tomo outro porre, cheiro cinco gramas, bato o carro numa esquina ou ligo para o CVV às quatro da madrugada e alugo a cabeça dum panaca qualquer choramingando coisas do tipo preciso-tanto-de-uma-razão-para-viver-e-sei-que-esta-razão-só-está-dentro-de-mim-bababá-bababá, até o sol pintar atrás daqueles edifícios, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais destrutiva que insistir sem fé nenhuma?

[Caio Fernando Abreu]

Grandeza difícil

Pensar viagens
toda noite me leva
a um sonho diferente
mas o sonho que sonho
é sempre o mesmo:
um lar


[Ryokan]

9 de março de 2009

Seu santo nome.

Não facilite com a palavra amor.
Não a jogue no espaço, bolha de sabão.
Não se inebrie com o seu engalanado som.
Não a empregue sem razão acima de toda razão (e é raro).
Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão
de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra
que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.
Não a pronuncie.

[CDA]

8 de março de 2009

Antologia

[...]
Me enseñaste a decir mentiras piadosas

Para poder verte a horas no adecuadas
Y a reemplazar palabras por miradas

Y fue por ti que escribí mas de cien canciones
Y hasta perdoné tus equivocaciones
Y conocí mas de mil formas de besar
Y fué por ti que descubri lo que es amar...

[Baranguice é mato, Shakira]

6 de março de 2009

O verão e as mulheres

Talvez tenha acabado o verão. Há um grande vento frio cavalgando as ondas, mas o céu está limpo e o sol é muito claro. Duas aves dançam sobre as espumas assanhadas. As cigarras não cantam mais. Talvez tenha acabado o verão.

Estamos tranqüilos. Fizemos este verão com paciência e firmeza, como os veteranos fazem a guerra. Estivemos atentos à lua e ao mar; suamos nosso corpo; contemplamos as evoluções de nossas mulheres, pois sabemos o quanto é perigoso para elas o verão.

Sim, as mulheres estão sujeitas a uma grande influência do verão; no bojo do mês de janeiro elas sentem o coração lânguido, e se espreguiçam de um modo especial; seus olhos brilham devagar, elas começam a dizer uma coisa e param no meio, ficam olhando as folhas das amendoeiras como se tivessem acabado de descobrir um estranho passarinho. Seus cabelos tornam-se mais claros e às vezes os olhos também; algumas crescem imperceptivelmente meio centímetro. Estremecem quando de súbito defrontam um gato; são assaltadas por uma remota vontade de miar; e certamente, quando a tarde cai, ronronam para si mesmas.

Entregam-se a redes; é sabido, ao longo de toda a faixa tropical do globo, que as mulheres não habituadas a rede e que nelas se deitam ao crepúsculo, no estio, são perseguidas por fantasias e algumas imaginam que podem voar de uma nuvem a outra nuvem com facilidade. Sendo embaladas, elas se comprazem nesse jogo passivo e às vezes tendem a se deixar raptar, por deleite ou preguiça.

Observei uma dessas pessoas na véspera do solstício, em 20 de dezembro, quando o sol ia atingindo o primeiro ponto do Capricórnio, e a acompanhei até as imediações do Carnaval. Sentia-se que ia acontecer algo, no segundo dia da lua cheia de fevereiro; sua boca estava entreaberta: fiz um sinal aos interessados, e ela pôde ser salva.

Se realmente já chegou o outono, embora não o dia 22, me avisem. Sucederam muitas coisas; é tempo de buscar um pouco de recolhimento e pensar em fazer um poema.

Vamos atenuar os acontecimentos, e encarar com mais doçura e confiança as nossas mulheres. As que sobreviveram a este verão.

[Rubem Braga]

5 de março de 2009

Tpm

Tô inchada, dolorida e sem paciência.Dormi mal, e, quando consegui dormir de fato, acabei tendo um sonho horrível. Acordei com preguiça do céu azul, do sanduíche que meu pai faz pra mim todas as manhãs e da playlist do meu mp4. Nenhuma roupa serviu, nenhum sapato combinou, o sutiã tá incomodando até agora [não vou nem comentar a idade da calcinha]. O telefone está tocando mais alto que o normal, os clientes estão mais chatos que o normal e os chefes estão mais desesperados que o normal.

Estou de TPM e a culpa é de vocês.

snooker

[...]

Perdi na sinuca com virtuose. Derrotas nas quais sempre matei bolas fantásticas, tacadas incríveis mesmo, sempre fui desse time, odeio bolas fáceis, e tudo o que puder fazer para metê-las de forma sofisticada, labiríntica, faço.

Jogo sinuca como uma mulher quando pensa. Nunca simples.

[Xico Sá]

3 de março de 2009

Sono

Ah, grandeza difícil
Que dá na gente
Antes de dormir
Gueriguéri de sono
Pré-sonho desfeito
Em doses medidas
De tristeza

Ah, certeza estranha
De querer muito mais
E não poder dizer
Por ser segredo
Ser loucura da noite passada

Ah, barranco de pobreza
Coisa inútil
Que só faz sofrer
Mais uma besteira
Pra esquentar a cabeça
E é tudo alegre, porque é só isso!

[Cazuza]

2 de março de 2009

Decifra-me ou te devoro

...por que elas acreditam, então?, perguntávamos todos no último capítulo sobre as pinoquices infantis dos hombres. Com a ajuda da comadre Dory Hollander e do copo sobre a mesa branca, tentaremos desvendar o mistério.

A psicóloga bagaceira arrisca várias respostas. Uma delas: as mulheres acham que ceticismo e romantismo não podem andar juntos, sob pena de estragar as coisas. Bonito isso, minha gente.

Dona Hollander nos separa, os machos, em dois blocos: os perigosos e, digamos, aéticos, que abusam da mentira, que enganam por "esporte e lucro", de forma inescrupulosa; os mentirosos ocasionais, que se mostram dissimulados sob pressão e desviam a realidade com pequenas lendas, artifícios para se livrar da "fúria feminina".

Nessa categoria estão também aqueles que poderíamos chamar de canalhas líricos, inocentes galanteadores como o personagem Bertrand Morane, no filme "O homem que amava as mulheres", do velho Truffaut, padrinho sentimental deste cronista.

Dublês de d. Juans, os Bertrands apenas enfeitam, douram a realidade nas suas peregrinações em busca das mulheres.

Seja qual for a sua classificação, a leitura do livro "As mentiras que os homens contam" pode ser feita de forma séria e compenetrada, na linha auto-análise, ou apenas como um delicioso chiclete para a mente, ora. Fiquem, pois, queridas leitoras, como essa pequena amostra grátis:

"As únicas fantasias sexuais que tenho são com você".

"Você é maravilhosa, merece alguém melhor do que eu".

"Relaxe, é apenas uma amiga".

"Vou deixar minha mulher".

"O que me atrai em você é a sua mente".

"Não, não acho você gorda".


[Xico Sá]