10 de novembro de 2009

Pra provar que eu não sou a única dramática do universo

eu fui quem

sempre fui

com as honrosas exceções

de não ter sido eu mesmo

quando as circunstâncias exigiam

o contrário

o cadáver de raymond

carver, por exemplo

eu nunca fui

nem mesmo quando desejei

ter sido (o álcool em trailers nevados

o alaska, o zumbido

zumbi)

lá em brazzaville

fui eu quem dei no pé

o ukelelê soando adormecido

sob o sovaco

a maquiagem preta derretida

sob o sol do congo

mais uma vez fui eu

em casino royale

a valise de 1 milhão de euros

aberta contra o vento da baía, o temporal

de tiros dos capangas

de dostoiévski

ex-manager de futebol do chelsea

(seu corpo barbudo apareceu

boiando no tâmisa

numa manhã de domingo)

você me ver agora ou há 3 meses

tanto faz

sou aquele mesmo com aquelas

dores mais recônditas

que não cabem num blogue

a dor das vísceras, que é boba

como explicou meu dentista

dói o coração, mas sente o braço

dói a alma e sente o nervo

saiba por ora que tenho

dormido à noite

iluminado pela janela

de um boeing

e que a lua lá fora

simboliza

o futuro

e você não está nele

(nem no boeing

nem no futuro)

então adeus

até nunca mais

e um dia


[Joca Reiners Terron]

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