10 de novembro de 2009

E se perder e se achar...

Um cachorro, Campeão. Vivia só com ele e começou a me incomodar. Levei-o ao bosque, deixei-o amarrado com uma corda que pudesse romper com um pouco de perseverância e voltei para casa. Em um par de dias estava arranhando a porta; deixei entrar. Ficou intolerável; levei-o a um bosque mais distante e o amarrei a uma árvore com uma corda mais grossa (sabia que o defeito não estava na corda, mas na fidelidade do animal; tinha, talvez, a esperança secreta que desta vez não pudesse se soltar e morresse de fome).

Voltou alguns dias depois.

Então soube que o cachorro voltaria sempre. Não me atrevia a matá-lo por temor aos remorsos; e pensei que ainda que conseguisse efetivamente perdê-lo, num bosque mais distante ainda, viveria com o temor constante de seu regresso; atormentaria minhas noites e turvaria minhas alegrias; me amarraria mais sua ausência do que sua presença.

Então duvidei apenas um instante frente à majestade do bosque compacto que se alçava diante de meus olhos – sombrio, imponente, desconhecido –; resolutamente, comecei a entrar, e continuei entrando até que, finalmente, me perdi.

[Mario Levrero]

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