[Xico Sá]
3 de novembro de 2008
NÃO HÁ DIAMANTES QUE COMPREM UMA ALMA PERRA
Tudo que sei é que esta é uma história em primeira pessoa. Blow-up. Quando dei fé, cão vadio, aos teus pés lá embaixo estava, mulher-abismo. Enfiei-me entre os dedos lambi como um lazarento... pulgas passionais ainda tentaram me avisar, epa!, durante a queda, em vão. Uma mulher muito grande, alma desenhada por R. Crumb. Pulgas mais avexadas, sado-camonianas, escreveram no meu couro, em caligrafia-coceira, “o amor é fogo que arde e não se sente”, ah, se eu pego esse caolho eu furo o outro. Lambi os dedinhos, um a um, mas não com ritmo, queria que você visse o desassossego desse pobre cardisplicente sob a forte chuva de granizo. Não há guarda-chuvas para o amor, Catherine. Nem mesmo quando se tem 20 anos. Não há diamantes que comprem uma alma perra, Catherine, não há barcos, salva-vidas, só perdição e enchentes. Não à-toa os sofás bóiam nos aguaceiros. Sofás dormidos por homens que erraram, homens que já partiram. “As mulheres são todas diferentes. Quando se perde um homem, há outro igual ao virar da esquina. Quando se perde uma mulher, é uma vida”. Desde o dia em que cai aos seus pés não sabia se estava a ganhá-la ou perde-la. O AMOR É FODIDO, do amigo ultramarinho Miguel Esteves Cardoso, me ensina coisas. Ao contrário das pulgas sado-camonianas, este gajo, certa noite das antigas, na cidade de São Paulo, boate Love Story, dizia que as lágrimas das raparigas são coquetéis sem álcool. Dizer “não chores” funciona sempre, porque só mencionar o verbo “chorar” emociona-as e liberta-as, dando-lhes carta branca para chorar ainda mais. As raparigas, depois de chorar, soprou-me o gajo, lirismo-Morrisey, ficam com vontade de fazer amor.
[Xico Sá]
[Xico Sá]
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