23 de outubro de 2008

Vai...

Vai, vai viver seu samba. Roendo da utopia o toco, essa vela sem chama. Estou escuriço, pelado e só, menos que bicho. Apodreci a messe, desprezei o óbolo, é que quem carrega amor, só pena. Ternura-tormenta, e tu, tu és a pinça-nervos, bisturi-brasa na minha perrenguice. Mas se aquiete, já me resignei, dói de todo jeito. Não doa, só quer. Ordena o máximo, pois que manda. Solidão é surra – entope! Tu, pinça-nervos, grita e tudo aperta e me abarca. Pensa que hiperbolizo? Olha, meu desejo enfado é a recusa-ritmo, o bi-étimo, essa pluri-repetição, o minimalismo maléfico. [...]

Já tentou esquecer o seu câncer? Ódio-impotência. Das impossibilidades que geram vaziez. O verbo? Olvidar. Não mais o mimo de um nicho no sótão da memória. Apagar aquele setembro e demais insanidades. Esconjuro-te! Toda dor viva e sentida, toda cremação, agoniza, agoniza; todo desespero cegante, decapita; olha, Ana, não devias ser, sonho fabricado pelo doentio que me sufoca desde menino; nada és! Nada és! Imaginada te manufaturei. Olha, Ana, tentarei esquecer, negar esquecimento não me será dado jamais. Vai, vai viver seu samba, meu drama, vai viver sem mim.


[João Filho]

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